"Carnaval agora só fala de macumba" Você conhece a história do Carnaval?

Cultura 

Escola Grande Rio é nomeada campeã do Carnaval 2022

A reação dos espectadores a homenagem feita pela Grande Rio a divindade Exú, adorada no candomblé e na umbanda, demonstra o desconhecimento sobre as origens do Carnaval e seu gênero musical principal, o samba.

Por: Giovanna Amorim

Créditos: Rádio Jornal - Uol

Ator e bailarino Demerson D'Alvaro, que interpretou Exú no sambódromo.

Quebrando estigmas voltados para as religiões de matriz africana, a escola de samba Grande Rio, com o enredo: Fala Majeté! Sete chaves de Exú, frequentemente confundido com o demônio, conseguiu homenagear o orixá e mostrar que não há espaço para intolerância religiosa. Entretanto, espectadores criticaram: “hoje o carnaval só fala de macumba”. Com isso, podemos notar o quanto o brasileiro ainda tem muito o que conhecer da própria cultura.

O carnaval foi trazido para o Brasil pelos colonizadores portugueses entre os séculos dezesseis e dezessete. Historiadores afirmam que alguns elementos do Carnaval foram herdados de diferentes povos, destacando os mesopotâmicos, gregos e romanos. Com o passar do tempo, surgiram os bailes de máscaras no Brasil que fazia parte do Carnaval Europeu, por isso se tornou hábito mascarar-se durante a festa.

A partir do século vinte as sociedades passaram a desfilar publicamente e houve a consolidação dos ritmos que incorporaram a influência da cultura africana na capital carioca. Na década de 30 o samba e os desfiles das escolas de samba tornaram-se o elemento fundamental do Carnaval no nosso país e em 1984 teve a inauguração do Sambódromo, local onde acontece os desfiles na cidade do Rio de Janeiro.

Créditos: Rádio Jornal - Uol

Ator e bailarino Demerson D'Alvaro, que interpretou Exú no sambódromo.

O samba é um dos principais gêneros musicais do Carnaval no Brasil, muitos críticos de música popular consideram como gênero tipicamente brasileiro. O samba surgiu dos batuques trazidos pelos africanos escravizados e eram associados a religião que ligavam os negros a uma comunicação ritual através da música, da dança e movimentos do corpo.

No século dezenove, a cidade do rio de Janeiro se tornou a capital do Império, consequentemente passou a comportar os negros vindos de outras regiões do país, principalmente da Bahia. Neste cenário, nasceram aglomerados em torno das religiões central da cidade, principalmente na região da Praça Onze, onde atuavam pais e mães de santo. Dessa forma, apareceram as primeiras rodas de samba que se misturou com os elementos do batuque africano com a polca e o maxixe.

Praça Onze no Rio de Janeiro. Créditos: Facebook

“Uma das possíveis origens, segundo Nei Lopes, seria a etnia quioco, na qual SAMBA significa cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito. Há quem diga que vem do banto SEMBA, como significado de umbigo ou coração. Parecia aplicar-se a danças nupciais de Angola caracterizadas pela umbigada, em uma espécie de ritual de fertilidade. Na Bahia surge a modalidade samba de roda, em que homens tocam e só as mulheres dançam, uma de cada vez. Há outras versões, menos rígidas, em que um casal ocupa o centro da roda. (ALVITO, Marcos. Samba. In: Revisa de história da Biblioteca Nacional. Ano 9. n° 97. Outubro, 2013. P 80).”

 
Dança da Umbigada. Créditos: a roda dos brincantes festeiros.


 

Samba de Roda

Créditos: Prefeitura de Lauro de Freitas 

 

Donga, um dos maiores sambistas que registrou o primeiro samba "Pelo Telefone".

Créditos: Wikipédia

Na virada do século dezenove para o século vinte, o samba passou a ser visto como gênero musical popular dominante dos subúrbios e, depois, nos morros cariocas (os dois maiores sambistas que ficaram muito conhecidos nesse contexto foram: João da Baiana, que gravou o samba “Batuque na cozinha” e Donga, que registrou, em 27 de novembro de 1916, aquele que ficou conhecido como o primeiro samba registrado em gravadoras chamado “Pelo Telefone”. 

Para concluir, a escola Grande Rio fez um importante papel e um dos mais lindos desfiles da história, reforçando que Exú não é demônio, Exú é caminho! O nosso Carnaval é preto, o nosso samba é preto. Reforçado pela Grande Rio, aqui não há espaço para intolerância religiosa, pois as religiões de matrizes africanas abraçam a nossa cultura e negar essa realidade, estamos negando a nossa cultura e nossas origens. 


Créditos: Valor Econômico
Ator e bailarino Demerson D'Alvaro, que interpretou Exú no sambódromo.


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